Depressão na Era das Aparências

Durante a faculdade estudei e escrevi sobre a contemporaneidade, a chamada pós-modernidade. Estudando sobre isso me lembro de ter me deparado com uma analogia mais ou menos assim: uma pessoa chega para uma mãe acompanhada de seu filho e elogia a beleza do garoto, a mãe responde: “Isso porque você não viu o álbum de fotos que fiz dele”.
O que autor quis dizer com essa analogia foi que na contemporaneidade valorizamos mais a representação (no caso as fotos do álbum) do que a relação direta com as pessoas ou objetos (a interação com o garoto).
Pode-se dizer que as relações virtuais são relações mediadas por representações. Então é possível estar triste, mas sorrir ao postar uma selfie. O que importa não é mais a realidade, a relação direta com a pessoa, mas a representação que é exposta. No álbum o filho é representado sobre bons ângulos, com favorável luz e eventualmente alterações computacionais para parecer mais bonito e esconder imperfeições. A foto não é a criança, mas uma imagem editada dela.
Percebo na clínica, na demanda de meus pacientes, duas coisas que me chamam a atenção: a síndrome do impostor (não é um diagnóstico reconhecido, mas é um termo utilizado para descrever o fenômeno de se sentir uma fraude e não merecedor dos próprios êxitos) e uma pressão em ser perfeito.
Ambas são sintomas claros disto. No caso da síndrome do impostor se tem a noção de que não se é aquilo tudo o que se representa, ficando um sentimento de culpa por estar “enganando” as pessoas, mesmo quando se tem de fato méritos. No segundo, é quando a pessoa acredita ser possível chegar naquilo que é representado, e pressiona-se para chegar na inalcançável perfeição.
Em um mundo tão submerso em representações, estas vem se tornando a referência das pessoas. Com metas tão distantes e inatingíveis não é de se estranhar que a depressão seja a doença do século.