Como Deixar de Carregar o Mundo nas Costas
Atlas, na mitologia grega, é um Titã condenado por Zeus a carregar, literalmente, o mundo nas costas. Quando se diz que alguém carrega o mundo nas costas hoje em dia, em referência a este personagem mítico, se quer caracterizar alguém que toma sobre si muitas responsabilidades, tarefas, obrigações, etc.
Estas pessoas costumam acreditar que os outros não dão conta de resolver os problemas, ou que não irão resolvê-los tão bem quanto elas próprias, vendo todos como muito dependentes delas. Em função disso, acabam por centralizar sobre si muitas responsabilidades, ultrapassando seus limites.
Não é raro que acabem “roubando” do outro a oportunidade de aprender e de desenvolver habilidades e responsabilidades. Por exemplo, pense em um chefe muito centralizador que tem dificuldade em confiar tarefas importantes ao seu subordinado, preferindo fazer ele mesmo.
Quando não houver outra maneira e este chefe precisar que o subordinado execute alguma tarefa importante, o que acontecerá?
Este não executará tão bem ou tão rápido quanto seu superior, afinal ele nunca fizera aquilo antes, levando o chefe a pensar: “Por isso prefiro fazer eu mesmo”. Confirmando a tese inicial do chefe e mantendo sua postura centralizadora. Este fenômeno é conhecido como viés de confirmação.
Esta dificuldade em confiar no outro é um dos principais ingredientes que mantém alguém carregando o mundo.
Um outro ponto interessante de ser discutido é a sensação de que estas pessoas tem de não serem reconhecidas. O que de fato é bastante comum.
Mas por que isso acontece?
Quando se faz de tudo por todo mundo a imagem que se passa é de Objeto, algo (não alguém) encarregado de funções que deve cumprir, e não de Sujeito, a de alguém provido de necessidades e desejos próprios que devem ser levados em consideração. (Para entender isso um pouquinho melhor leia o texto: Você tem valor? Ou apenas é útil?)
É por isso que quando alguém muito acostumado a fazer favores se nega a fazer um é tão rechaçado, pois as pessoas passam a entender tudo aquilo que ele faz como obrigação e não apenas como favor ou ajuda.
Não é à toa que este funcionamento traga ansiedade, stress e até mesmo depressão. Não se carrega o mundo nas costas sem ser esmagado por ele.
Por isso elaborei algumas dicas de como deixar de carregar o mundo nas costas:
- separe os próprios problemas dos problemas dos outros: não duvide da capacidade das pessoas, elas podem não saber resolver no momento, mas nunca aprenderão se alguém sempre resolver por elas. Ao invés disso, por que não orientá-las?;
- defina prioridades: nem tudo precisa ser feito pra ontem, algumas coisas podem ser deixadas para uma hora mais apropriada. Carregadores de mundo costumam ser ansiosos, e pensam que tudo precisa ser resolvido logo. Respeite o seu tempo;
- aprenda a abrir mão: ninguém pode fazer tudo, algumas renúncias são necessárias para favorecer outras, mais prioritárias; e
- delegue responsabilidades: divida as responsabilidades com alguém, você não precisa assumir tudo sozinho(a). Por exemplo, no trabalho você pode dividir com os colegas, em casa com os familiares, etc.
Obs1: Estas dicas são genéricas e pontuais, talvez não sejam suficientes para casos individuais. Se for o seu caso procure por um acompanhamento psicológico.
Obs2: É importante diferenciar as pessoas que carregam o mundo nas costas, daquelas que tem o mundo jogado em cima delas por determinada circunstância, como por exemplo, com a enfermidade de um ente querido ou ser obrigado a executar sozinho o trabalho de uma equipe inteira.